Os Perfis Psicológicos

Os Perfis Psicológicos

Assim como numa peça de William Shakespeare, em que cada personagem assume um papel distinto e característico, nós também agimos no dia a dia de acordo com o papel para o qual fomos criados. E isso é devido a dois conceitos básicos: temperamento e personalidade. O temperamento é o modo de ser, é a qualidade predominante de nossa índole, e que, segundo a psicologia, nasce conosco. A personalidade é o modo de agir, e é determinada pelo temperamento, mas também, é influenciada pela nossa educação e pelo ambiente externo; ela é o todo que se expressa no indivíduo.

Existem várias teorias que tentam desvendar e classificar os temperamentos do ser humano, vamos, aqui, conhecer o que eu entendo ser as mais importantes.

Hipócrates

Conhecido como “O Pai da Medicina”, Hipócrates foi um dos pioneiros em analisar e definir os temperamentos do ser humano (isso lá no século V a.C.). Hipócrates acreditava que havia quatro fluidos principais no corpo humano (sangue, linfa, bílis amarela e bílis negra) e que, de acordo com a predominância de cada um, haveria 4 tipos básicos de temperamentos: sanguíneo, fleugmático, colérico e melancólico, respectivamente.

  • Sanguíneo (ou hemático): Predominância do sangue, seria mais extrovertido e mais estável emocionalmente.
  • Fleugmático (ou linfático): Predominância da linfa, seria mais introvertido e mais estável emocionalmente.
  • Colérico (bilioso): Predominância da bílis amarela, seria mais extrovertido e menos estável emocionalmente.
  • Melancólico (nervoso): Predominância da bílis negra, seria mais introvertido e menos estável emocionalmente.

Carl Jung

Carl Gustav Jung (1875-1961) nasceu na Suíça, formou-se em psiquiatria, trabalhou como psicoterapeuta, e fundou a psicologia analítica. Jung, no seu livro Psychological Types (Tipos Psicológicos – em tradução livre), publicado originalmente em 1921, classificou os indivíduos dentro do que ele chamou de 2 tipos gerais de atitude, e 4 tipos de funções.

  • 2 Tipos Gerais de Atitude: Extrovertido (mais voltado ao ambiente externo, gosta de interagir com pessoas, gosta de muitos estímulos provenientes do ambiente) e Introvertido (mais voltado a si mesmo, prefere interagir com pessoas de forma seletiva, não precisa de muitos estímulos do ambiente para viver).
  • 4 Tipos de Funções:
          • de Julgamento: Racional (age conforme a razão, antagonista do Emocional) e Sensitivo (compreensão através dos sentidos, antogonista do Intuitivo)
          • de Percepção: Emocional (age baseado na emoção, antagonista do Racional) e Intuitivo (compreensão através da intuição, antagonista  do Sensitivo)

Portanto, Jung preconiza 8 perfis psicológicos básicos:

  • Extrovertido Racional
  • Extrovertido Emocional
  • Extrovertido Sensitivo
  • Extrovertido Intuitivo
  • Introvertido Racional
  • Introvertido Emocional
  • Introvertido Sensitivo
  • Introvertido Intuitivo

De acordo com Jung, o indivíduo pode ter um tipo de função principal (ou superior), sendo sua antagonista, inferior;  pois, as outras funções aparecerão como auxiliares ou secundárias. Por exemplo, um tipo Extrovertido Racional terá a extroversão como atitude geral e a racionalidade como função superior. A intuição ou sensação, serão funções secundárias, porém, jamais a emoção, pois esta é a antagonista da racionalidade.

Myers-Briggs

Katharine Cook Briggs e sua filha, Isabel Briggs Myers, desenvolveram, baseado no trabalho de Jung, o chamado Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), composto de 16 perfis psicológicos, a partir das combinações dos 3 pares de tipos opostos de Jung; além de duas outras dimensões (Julgamento e Percepção) que, no livro de Jung, era a forma dele nominar os dois pares de funções (racional e sensitiva, emocional e intuitiva, respectivamente). O MBTI foi publicado por Katharine Cook Briggs como um artigo no jornal The New Republic, em 1926. Os 16 tipos são:

  • ESFP (Improvisador Entusiasmado): Extrovertido + Sensitivo + Emotivo + Perceptivo.
  • ESFJ (Colaborador Apoiador): Extrovertido + Sensitivo + Emotivo + Julgador.
  • ESTP (Solucionador Energético): Extrovertido + Sensitivo + Racional + Perceptivo.
  • ESTJ (Organizador Eficiente): Extrovertido + Sensitivo + Racional + Julgador.
  • ENFP (Motivador Criativo): Extrovertido + Intuitivo + Emotivo + Perceptivo.
  • ENFJ (Facilitador Sensível): Extrovertido + Intuitivo + Emotivo + Julgador.
  • ENTP (Explorador Empreendedor): Extrovertido + Intuitivo + Racional + Perceptivo.
  • ENTJ (Estrategista Determinado): Extrovertido + Intuitivo + Racional + Julgador.
  • ISFP (Apoiador Vesátil): Introvertido + Sensitivo + Emotivo + Perceptivo
  • ISFJ (Ajudante Prático): Introvertido + Sensitivo + Emotivo + Julgador
  • ISTP (Pragmático Lógico): Introvertido + Sensitivo + Racional + Perceptivo
  • ISTJ (Realista Responsável): Introvertido + Sensitivo + Racional + Julgador
  • INFP (Idealista Reflexivo): Introvertido + Intuitivo + Emotivo + Perceptivo
  • INFJ (Visionário Perspicaz): Introvertido + Intuitivo + Emotivo  + Julgador
  • INTP (Analista Objetivo): Introvertido + Intuitivo + Racional + Perceptivo
  • INTJ (Planejador Conceitual): Introvertido + Intuitivo + Racional + Julgador

Keirsey

David Keirsey, um psicólogo americano, desenvolveu o Keirsey Temperament Sorter (Classificador de Temperamentos de Keirsey – em tradução livre) baseado no trabalho de Platão e Jung, utilizando, também, as 16 combinações de perfis de modo similar ao Myers-Briggs, e que aparece descrito no livro Please Understand Me (Por Favor Me Entenda – em tradução livre),  escrito  com Marilyn Bates e publicado em 1978. O Sistema Keirsey preconiza 4 grandes grupos de temperamentos (Artesão, Guardião, Idealista, Racional) e os subdivide em 4 perfis cada.

  • Artesão (voltado ao mundo externo, pensamento utilitário)
    • Promotor => ESTP: Extrovertido + Sensitivo + Racional + Perceptivo.
    • Construtor => ISTP: Introvertido + Sensitivo + Racional + Perceptivo
    • Artista => ESFP : Extrovertido + Sensitivo + Emotivo + Perceptivo.
    • Compositor => ISFP: Introvertido + Sensitivo + Emotivo + Perceptivo
  • Guardião (voltado ao mundo externo, pensamento cooperativo)
    • Supervisor => ESTJ: Extrovertido + Sensitivo + Racional + Julgador.
    • Inspetor => ISTJ: Introvertido + Sensitivo + Racional + Julgador
    • Provedor => ESFJ: Extrovertido + Sensitivo + Emotivo + Julgador.
    • Protetor => ISFJ: Introvertido + Sensitivo + Emotivo + Julgador
  • Idealista (voltado ao mundo interno, pensamento cooperativo)
    • Professor => ENFJ: Extrovertido + Intuitivo + Emotivo + Julgador.
    • Conselheiro => INFJ: Introvertido + Intuitivo + Emotivo  + Julgador
    • Campeão => ENFP: Extrovertido + Intuitivo + Emotivo + Perceptivo.
    • Curador => INFP: Introvertido + Intuitivo + Emotivo + Perceptivo
  • Racional (voltado ao mundo interno, pensamento utilitário)
    • Marechal => ENTJ: Extrovertido + Intuitivo + Racional + Julgador.
    • Mentor => INTJ: Introvertido + Intuitivo + Racional + Julgador
    • Inventor => ENTP: Extrovertido + Intuitivo + Racional + Perceptivo.
    • Arquiteto => INTP: Introvertido + Intuitivo + Racional + Perceptivo

Adizes

Ichak Kalderon Adizes, professor e consultor de gestão nascido na antiga Iugoslávia (hoje Macedônia), e fundador do Instituto Adizes (baseado em Santa Bárbara, Califórnia); desenvolveu, em 1971, um sistema de 4 perfis psicológicos baseado, também, no trabalho de Jung; mas assemelhando-se, de certo modo, ao trabalho de Hipócrates.

  • Produtor: abordagem estruturada, rápido, focado em resultados, perspectiva local.
  • Administrador: abordagem estruturada, lento, focado em processos, perspectiva local.
  • Empreendedor: abordagem menos estruturada, rápido, focado em resultados, perspectiva global.
  • Integrador: abordagem menos estruturada, lento, focado em processos, perspectiva global.

DISC

O Modelo DISC foi proposto pela primeira vez por William Moulton Marston (também baseado no trabalho de Jung), um psicólogo fisiológico com Ph.D. de Harvard, em seu livro de 1928, Emotions of Normal People (Emoções de Pessoas Normais – em tradução livre). Walter V. Clarke, um psicólogo industrial, foi a primeira pessoa a construir um instrumento de avaliação (teste de perfil de personalidade) usando as teorias de Marston. Em 1956 ele publicou Activity Vector Analysis (Análise do Vetor de Atividade – em tradução livre), uma lista de adjetivos na qual as pessoas tinham que marcar aquilo com que se identificassem como verdadeiro. A ferramenta, que utilizava quatro perfis (agressivo, sociável, estável e esquivoso), foi usada por Clarke desde 1948 na seleção de pessoal nas empresas. Cerca de 10 anos depois, a Walter Clarke Associates desenvolveu uma nova versão deste instrumento, pois, em vez de usar uma lista de verificação, esse teste fazia com que a pessoa escolhesse entre dois ou mais termos. Em 1970, essa metodologia foi usada por John Geier para criar o Personal Profile System (PPS). Depois, o Inscape Publishing desenvolveu ainda mais esta ferramenta, e a nova avaliação recebeu o nome de Personal Profile System 2800 Series (PPS 2800) e foi publicada pela primeira vez em 1994. Outras versões do PPS foram lançadas e esta, de 1994, ficou sendo chamada de Clássica. Hoje, o modelo DISC pertence a empresa John Wiley & Sons, Inc. O modelo DISC estabelece 4 perfis, 2 dominantes e 2 secundários, assim definidos:

  • D – Dominance (Dominância – em tradução livre): foco em resultados, confiança.
  • I – Influence (Influência – em traduça livre): foco em relacionamentos, persuasão.
  • S – Steadiness (Estabilidade – em tradução livre): foco em cooperação, sinceridade, confiabilidade.
  • C – Conscientiousness (Conscienciosidade – em tradução livre): foco em qualidade, competência.

Herrmann

William “Ned” Herrmann, um americano formado em física que, baseado na pesquisa cerebral de Roger Sperry, Paul MacLean, Joseph Bogen e Michael Gazzanaga (cujo resultado mostrava que o cérebro tem 4 estruturas distintas), iniciou uma pesquisa utilizando exames de eletroencefalograma e questionários para identificar 4 tipos distintos de pensamento, cada um correspondendo aproximadamente a uma das estruturas cerebrais, e relacionando isso aos temperamentos. O resultado desta pesquisa é o modelo Herrmann Whole Brain Model (Modelo Cérebral Inteiro de Herrmann – em tradução livre). A partir do Whole Brain Model e com a continuidade das pesquisas, Ned Herrmann, em 1979, apresentou o chamado Herrmann Brain Dominance Instrument (Instrumento de Dominância Cerebral de Herrmann- em tradução livre) para avaliação das perfis psicológicos.

O modelo cerebral de Herrmann é composto de 4 quadrantes (A, B, C, D). Os quadrantes A e B pertencem ao lado racional, os quadrantes C e D pertencem ao lado intuitivo. Os quadrantes A e D estão do lado intelectual, e os quadrantes B e C estão do lado instintivo:

  • A – Analytical (Analítico – em tradução livre): lógico, analítico, factual, quantitativo.
  • B – Practical (Prático – em tradução livre): organizado, sequencial, planejado, detalhista.
  • C – Relational (Relacional – em tradução livre): interpessoal, sentimental, cinestésico, emocional.
  • D – Experimental (Experimental – em tradução livre): holístico, intuitivo, integrador, sintético.

Conclusão

O meu objetivo foi o de proporcionar uma visão geral de algumas das principais teorias sobre o temperamento humano e suas ferramentas. Ainda que eu considere essas ferramentas de identificação de perfis psicológicos um tanto interessantes (e foi por isso que as reuni nesse breve resumo), considero temerário confiar demasiadamente nelas, pois, são passíveis de erro. O pressuposto para qualquer dessas ferramentas é, primeiro, que tenham sido confiáveis na sua estruturação, e, segundo, que o sujeito em análise seja sincero na avaliação, para que seu resultado expresse, tanto quanto possível, a proximidade com um ou outro perfil.

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