Susan Cain, uma introvertida insatisfeita com a forma com que, culturalmente, os introvertidos em geral são vistos, publicou em 2012 o livro: Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Speaking (O Poder dos Quietos: Como os Tímidos e Introvertidos Podem Mudar um Mundo que Não Para de Falar). Nesse livro ela aborda aspectos até então esquecidos pela grande maioria, como o potencial de contribuição dos introvertidos e sua inteligência. No livro, ela cita alguns exemplos bem conhecidos de pessoas introvertidas com contribuições incontestáveis, veja a seguir:
- Isaac Newton: desenvolveu a Lei da Gravitação Universal, As 3 Leis da Mecânica, e vários outros trabalhos;
- Albert Einstein: desenvolveu a Teoria da Relatividade;
- Frédéric Chopin: criou várias obras de música clássica reconhecidas mundialmente;
- Steven Spielberg: dirigiu filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T., Indiana Jones, Jurassic Park, entre outros;
- Larry Page: fundou, com Sergey Brin, o gigante da internet: Google
- J.K. Rowling: escreveu Harry Potter
Introversão e Extroversão
Carl Jung define introversão como sendo a característica do indivíduo voltado para si mesmo, cujos referenciais estão dentro de si mesmo, e são pessoas com boa intuição; enquanto que o extrovertido é aquele voltado para o mundo exterior, e com pouca intuição. Os introvertidos recarregam suas baterias ficando sozinhos, e os extrovertidos recarregam suas baterias socializando. Segundo Susan Cain, em seu livro, os psicólogos contemporâneos definem um e outro dessa maneira: “Extrovertidos tendem a terminar tarefas rapidamente. Eles tomam decisões rápidas (e às vezes drásticas) e sentem-se confortáveis com muitas tarefas ao mesmo tempo e ao correr riscos. Gostam da “excitação da caça” por recompensas como dinheiro e status. Introvertidos muitas vezes trabalham de forma mais lenta e ponderada. Eles gostam de se focar em uma tarefa de cada vez e podem ter um grande poder de concentração. São relativamente imunes às tentações da fama e fortuna.” Parece um consenso para os psicólogos que as pessoas não são sempre introvertidas ou extrovertidas, e que ninguém é totalmente extrovertido ou introvertido, mas, sim, que há uma prevalência de introversão ou extroversão na personalidade da pessoa, assim como acontece com várias outras características de personalidade. Susan Cain comenta em seu livro que, muitas vezes, psicólogos associam introversão com falta de autoconfiança e sociabilidade. Ora, se Oprah Winfrey, uma das mais bem sucedidas apresentadoras de TV dos Estados Unidos se percebe como introvertida; e se Abraham Lincoln e Barack Obama são também considerados introvertidos, é óbvio que associar introversão e falta de autoconfiança é uma grande asneira.
Timidez
É importante frisar que os introvertidos não são, necessariamente, tímidos. Enquanto a introversão é uma característica da personalidade do indivíduo que em nada atrapalha a boa liderança; a timidez, por sua vez, pode ser um problema na medida que impeça ou dificulte as ações de uma liderança. Podemos definir a timidez como sendo um acanhamento excessivo, com o medo presente nas relações interpessoais, é o extremo da introversão; assim como o exibicionismo e a chatice são os extremos da extroversão. No entanto, a boa notícia é que a timidez pode ser trabalhada, sim, com treinamento, de modo a se conseguir o nível desejado de desinibição e desembaraço. Para isso, indico, preferencialmente, cursos de oratória, pois são excelentes ferramentas que, ao mesmo tempo em que provocam desinibição, melhoram muito a comunicação, além, é claro, dos cursos de teatro, que são, também, poderosas ferramentas de desinibição. Numa entrevista, o consagrado ator inglês Michael Caine, vencedor de dois prêmios Oscar da Academia, disse que entrou para o teatro para superar a sua timidez. Mas ele não é o único ator famoso que sente dificuldade em lidar com a exposição, o ator Liev Schreiber, (que atuou em produções como: X-Men, A Profecia, Pânico, etc.) também se considera tímido, com dificuldade em tirar fotos e encontrar pessoas. Pondere o seguinte: se um ator consegue lidar com a timidez a ponto de se tornar reconhecido mundialmente, numa profissão que exige o máximo de desembaraço e desinibição, também um líder tem condições de fazê-lo.
Mas Quem É Melhor Líder?
Anos atrás eu estava dando um treinamento de introdução ao Seis Sigma para o corpo gerencial de um grande fabricante de Santa Catarina. O objetivo do treinamento era apresentar aos gerentes e supervisores da empresa o que é o Seis Sigma, e como ele funciona, pois a empresa o estava introduzindo, naquele período, como ferramenta de melhoria. Depois de algum tempo, um participante fez um questionamento muito interessante, ele disse que tinha uma pessoa na sua equipe que falava pouco, era introvertida, e ele queria saber se ela poderia liderar projetos Seis Sigma. Eu expliquei a todos que um líder precisa se comunicar de modo eficaz, isso não significa falar muito ou falar pouco, mas falar o que é preciso, no momento certo. Em toda a minha carreira no mundo corporativo, conheci inúmeros lideres introvertidos, e outro tanto, extrovertidos, e posso afirmar que não era essa a característica que os tornava bons ou ruins. Alguns introvertidos eram bons líderes, alguns extrovertidos, também.
Portanto, pelo exposto, posso responder à pergunta do título: tanto faz, qualquer um, extrovertido ou introvertido, pode ser um bom líder! Introversão ou extroversão não são características vinculadas à liderança, nem mesmo à gestão, são, simplesmente, características pessoais, características que fazem com que as pessoas reajam aos estímulos de modo diferente. Enquanto o extrovertido precisa de muitos estímulos, o introvertido, ao contrário, sente menos necessidade de estímulos (ou, talvez, podemos dizer que precisa de estímulos mais sutis) para tocar sua vida e seu trabalho. Porém, o que é mais importante é que ambos poderão desempenhar bem a função de liderança, desde que tenham as competências principais da liderança (como já as descrevi no meu livro 52 Bons Hábitos de Gestão, Liderança e Relações Humanas) bem desenvolvidas, que são: motivação da equipe, equilíbrio emocional, visão positiva do futuro, justiça, iniciativa, aprendizagem com os erros, boa comunicação, foco em resultados, tomada de decisões difíceis, e criatividade.