Procrastinação – Como Lidar com Isso?

Procrastinação - Como Lidar com Isso?

O dicionário Aulete tem uma definição muito objetiva de procrastinação: “Deixar para depois; adiar; postergar”. E conhecemos bem isso! Ocorre, por exemplo, quando inventamos todo tipo de desculpa para evitar começar aquele curso de especialização, ou para evitar iniciar a dieta ou a academia. A origem da palavra vem do latim pro (a favor) e cras (amanhã), ou seja, a favor do amanhã (pro + cras). Segundo o Dr. Jeff Czarnec, decano associado da Universidade Southern New Hampshire (responsável por supervisionar os programas de justiça criminal, ciência política, antropologia, serviços humanos e estudos de justiça), nós fomos programados para procrastinar, pois nossos ancestrais, para sobreviver, tiveram que se concentrar nas tarefas de caça e coleta que davam a recompensa imediata; eles não conseguiam dar atenção a atividades que podiam atrasar as recompensas, como armazenar alimentos para um dia chuvoso ou praticar técnicas corretas de colheita de alimentos.

A procrastinação, de fato, ocorre com a grande maioria das pessoas. Segundo uma pesquisa de Darius Foroux, especialista em produtividade e procrastinação, com a participação de 2.219 profissionais, o percentual de profissionais que procrastinam ao menos 1 hora do dia foi de 88% – era perguntado quanto tempo a pessoa havia procrastinado no dia anterior? A pesquisa mostrou ainda que: 80% dos trabalhadores assalariados procrastinaram de 1 a 4 horas no dia, e 76% dos empreendedores procrastinaram de 1 a 4 horas no dia.

Teoria da Motivação Temporal

Piers Steel, pesquisador da Universidade de Calgary no Canadá, estabeleceu a chamada Temporal Motivation Theory (Teoria da Motivação Temporal – em tradução livre) que, em síntese, é uma equação com 4 variáveis e que procura, de outra maneira, explicar a procrastinação, pois, quanto menor a motivação, tanto maior a probabilidade de procrastinar.

Motivação = (Expectativa x Valor) / (Impulsividade x Demora)

A Motivação indica a preferência por uma determinada ação, ou pela execução de uma determinada tarefa. No numerador da equação temos duas variáveis:

  • Expectativa: refere-se à probabilidade de um resultado ocorrer. Naturalmente, tendemos a preferir atividades que tem mais chances do resultado esperado ocorrer;
  • Valor: refere-se a quão recompensador é esse resultado. Naturalmente, gostaríamos de escolher atividades que nos deem uma boa chance de obter um bom resultado.

No denominador também temos duas variáveis:

  • Impulsividade: refere-se à sua capacidade de focar no objetivo, quanto mais impulsivo, mais disperso ou distraído você pode ser. Mais impulsivo, menor será a motivação para a atividade;
  • Atraso: indica quanto tempo você deve esperar para receber a recompensa esperada em realizar a tarefa. Quanto mais longe for a data de se obter a recompensa, ou seja, quanto maior o atraso, menor será a motivação para realizar a tarefa.

Consequências da Procrastinação

Além do fato em si, de não realizar a tarefa devida, e todas as consequências que esse fato  traz, existem alguns outros aspectos relevantes a serem discutidos em relação às consequências da procrastinação, em especial, à saúde da pessoa procrastinadora. Segundo a Dra. Fuschia Sirois, psicóloga e pesquisadora da Universidade de Sheffield (UK), em seu artigo Procrastination and the Priority of Short-Term Mood Regulation: Consequences for Future Self (Procrastinação e Prioridade da Regulação do Humor de Curto Prazo: Consequências para o Futuro Próprio – em tradução livre), publicado em 2013, existem importantes impactos da procrastinação no bem-estar da pessoa; ela relaciona os seguintes: enfraquecimento da saúde mental, ansiedade, depressão, e estresse.

8 Razões Comuns da Procrastinação e Como Lidar com Elas

Conhecer e entender as razões da procrastinação, já é meio caminho para aprender a lidar melhor com isso. Em geral, as razões pelas quais as pessoas procrastinam são: incompetência, desinteresse, dificuldade, falta de objetividade, hábito de procrastinar, inércia; espera, falta de tempo.

#1 – Incompetência: Ocorre quando, simplesmente, não sabemos como fazer a tarefa. O que fazer? Quando não nos sentimos capazes, ou não acreditamos que tenhamos a competência devida para a realização da tarefa, de duas, uma: ou essa tarefa não deveria ser de nossa responsabilidade, ou deveríamos desenvolver a competência requerida, para realizá-la, e, se preciso for, pedindo ajuda. O que não devemos fazer, é ficar procrastinando…

#2 – Desinteresse: Nesse caso, a falta de vontade pode ocorrer porque não vemos importância na tarefa, ou porque ela é muito chata. O que fazer? O Dr. Jeffrey S. Czarnec, decano associado da Universidade Southern New Hampshire, responsável por supervisionar os programas de justiça criminal, ciência política, antropologia, serviços humanos e estudos de justiça recomenda tentar dar um ar de “jogo” a uma tarefa desinteressante. Por exemplo, escrever um relatório que você não tem vontade de fazer, usando um cronômetro para ver quantas palavras você consegue escrever em um período. De todo modo, busque criar interesse, seja pensando nos potenciais resultados, seja pelo aprendizado, ou, ainda, pela boa sensação de eliminar uma pendência.

#3 – Dificuldade: Até sabemos executar a tarefa, mas sabemos que é difícil, e, por isso, podemos ir deixando ela para depois, indefinidamente. O que fazer? Experimente o método da fragmentação. Se a tarefa parecer grande demais, enfrentar tudo de uma vez pode parecer impossível. Então, divida a tarefa em partes, inicie com um tempo mínimo, algo que pareça fácil. Segundo o Dr. Czarnec, essa técnica provou diminuir a resistência de muitos procrastinadores. Enfim, entender exatamente qual é a dificuldade da tarefa, e buscar compensá-la, ou minimizá-la, deve ser o seu objetivo!

#4 – Falta de Objetividade: Ocorre por não acreditarmos na importância de “quando” será feita a tarefa, ou por não haver um prazo determinado. O que fazer? É importante lembrar que as metas de longo prazo somente serão alcançadas com a realização de atividades de curto prazo, as quais podem facilmente ser vítimas de procrastinação. Procure, então, estabelecer ou identificar os objetivos que lhe dizem respeito, sejam os de curto prazo, sejam os de longo prazo, pois, em geral, a objetividade facilita a ação; aproveite isso!

#5 – Hábito de Procrastinar: Ocorre quando temos o hábito de esperar até o último minuto para iniciar ou para encerrar a tarefa – podemos fazer isso porque gostamos de trabalhar sob pressão, ou porque, simplesmente, temos esse mal hábito. O que fazer? Projete as consequências da procrastinação. Pergunte-se qual é o preço que você pagará pela procrastinação? Entenda qual poderá ser o impacto na sua carreira, família, saúde e assim por diante, se você procrastinar determinada tarefa? Isso ajuda a quebrar o hábito da procrastinação.

#6 – Inércia: Acontece quando não temos a iniciativa de iniciar a tarefa, e precisamos de – ou esperamos – encorajamento. O que fazer? Comece alguma coisa. Mãos à obra! Frequentemente, a parte mais difícil é dar o primeiro passo. Agir é fundamental! Encoraje-se!

#7 – Espera: Nesse caso, aguardamos, indefinidamente, o momento perfeito para realizar a tarefa (ou projeto) – e esse é um dos motivos pelos quais dizemos que “O ótimo é inimigo do bom”. O que fazer? Não espere pelo momento perfeito para encarar a tarefa, ele pode não chegar nunca, e, na grande maioria das vezes, não é necessário para realizar a tarefa a contento. A maioria das pessoas que iniciam uma tarefa, não o fazem porque é o momento perfeito, mas porque a tarefa deve ser feita. Lembre-se de que “o ótimo é inimigo do bom”.

#8 – Falta de Tempo: Ocorre quando, por excesso de trabalho, desorganização, ou mal planejamento, não encontramos tempo para realizar a tarefa. O que fazer? Desconectarmos das coisas que nos distraem, ou nos sobrecarregam de algum modo, é fundamental para focarmos em nossos objetivos e tarefas. Analise o porquê você está sem tempo, e se isso tem sido corriqueiro, ou é uma situação esporádica. É fundamental que você se organize melhor, e se planeje melhor; ou seja, é fundamental fazer uma boa gestão do tempo.

A Recompensa Imediata do Bem

Além dessas técnicas já apresentadas, eu  tenho usado uma que tem funcionado bem para mim. Como nós fomos programados para dar preferência às recompensas imediatas (por exemplo, comer o pedaço de bolo agora do que esperar meses para ver o resultado de uma boa dieta), eu uso exatamente isso para contra-atacar, ou seja, eu crio uma outra recompensa imediata (do bem) coerente com o que eu quero. No caso do bolo, a recompensa imediata é o prazer de comer o doce, pois eu crio uma recompensa imediata do bem, no caso de eu não comer o bolo, que é “deixar de engordar” e poupar o corpo de ingerir açucares e gorduras de baixa qualidade. Isso quer dizer que eu não preciso esperar meses para meu cérebro perceber a recompensa, ela é imediata, mas é do bem, e de acordo com meu raciocínio lógico. Ao não ingerir o bolo, o doce, o chocolate, ou o que quer que seja que você queira evitar comer para manter a sua dieta, você pode imaginar a sua cintura imediatamente “deixando de aumentar”, é você “deixando de engordar”.

Outro exemplo é o caso daquele relatório que você vem postergando e nunca acha tempo para fazer. Imagine que a recompensa imediata do bem, nesse caso, poderia ser você se sentir aliviado por começar o relatório. Sim, o importante é começar, proponha-se a formatar o relatório, ou escrever pelo menos o primeiro parágrafo. Ao buscar esse alívio, tirar esse peso das costas, você consegue iniciar o relatório, que, numa outra ocasião, poderá ser continuado, e com muito mais facilidade. Esses são só alguns exemplos, você pode criar a recompensa imediata do bem para qualquer coisa que você precise fazer (exemplo do relatório), ou que você não queira fazer (no exemplo do bolo).

Conclusão

Nosso neocortex (cérebro racional) foi desenvolvido há uns 200.000 anos, enquanto que o homem e seu cérebro instintivo tem mais de 2 milhões de anos. Isso torna algo desafiador executar tarefas que se sobreponham ao nosso instinto. Escrever um relatório quando você está cansado, organizar um armário quando você está com fome, ou fazer limpeza quando prefere se distrair na televisão, são alguns exemplos da disputa interna que travamos para não procrastinar. É o racional travando a batalha contra o instintivo. Apesar disso, o fato é que evoluímos, e não podemos nos contentar em ter um comportamento primitivo. Mas não se culpe, pois isso não vai ajudá-lo! O mais importante é ter consciência dos mecanismos da procrastinação, e agir de modo a lidar melhor com isso, usando as técnicas para evitar, ou minimizar, a procrastinação! Aja com confiança e boa sorte!

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