Para evidenciar conformidade!
Introdução
Desde Ford até nossos tempos, os processos industriais tem alcançado incrível desenvolvimento, buscando padronização, produtividade e eficiência, e o sistema de gestão da qualidade é um dos alicerces para isso. Um bom sistema de gestão da qualidade permite controles adequados do produto e da produção, agiliza as ações corretivas, facilita implementar as ações preventivas e transmite confiabilidade ao cliente.
Um bom SGQ (sistema de gestão da qualidade) tem o objetivo de comunicar adequadamente as informações pertinentes à Organização, evidenciar a conformidade do produto e do serviço fornecido e compartilhar o conhecimento. Veja na figura abaixo um pouco do histórico dos movimentos em prol da qualidade industrial, desde Ford e o “princípio da divisão do trabalho”, passando pela introdução do controle estatístico do processo (para monitorar e assegurar qualidade ao processo), Deming e o modelo PDCA de melhoria contínua, Fayol e o desenvolvimento da administração, a criação da ISO (padronização de normas técnicas, até Juran e o conceito de “foco no cliente”.
O próprio processo da globalização, exigiu um padrão de qualidade mais elevado. Mas o que é a globalização? A globalização é o fenômeno de interação econômica e sócio-cultural mais intensa entre os países, com início, notadamente, na década de 90. A globalização foi impulsionada pela maior liberdade política, devido ao fim da guerra fria, pela redução dos custos nos transportes, decorrentes das próprias aberturas de mercado e da modernização dos meios de transporte, e também pela maior facilidade de comunicação, com o advento do uso comercial da internet.
Dessa forma, vimos, no âmbito industrial, uma mudança cultural muito grande, pois os mercados consumidores começaram a ter mais opções de produtos e, com isso, os produtores de menor qualidade tiveram, basicamente, dois caminhos: melhorar a qualidade ou fechar as portas.
Na tentativa de aliar forças e proteger mercados, começaram a surgir os blocos econômicos, entre eles: a Comunidade Européia, em 1991; o Nafta (originalmente USA, Canadá e México), 1994; e o Mercosul (originalmente Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
Veja, a seguir, um resumo gráfico do cenário da globalização.
As Normas da Série ISO 9000
Com o final da segunda guerra mundial, representantes de vários países reuniram-se em Londres e decidiram criar uma entidade com o objetivo de unificação dos padrões industriais, objetivando facilitar o desenvolvimento mútuo internacional. A nova organização foi chamada de International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização), ou ISO, como ficou conhecida, cujo nome deriva da palavra grega ISOS, que significa “igual”. A ISO iniciou oficialmente as suas operações no ano de 1947, tendo sua sede em Genebra, na Suíça. Com os desafios do início da globalização, cresceu a necessidade de normas e padrões internacionais, resultando que, em 1987, surgiu a primeira ISO900, com forte influência da norma britânica BS 5750 (publicada pela primeira vez em 1979) e das “MIL SPECS” (normas militares americanas). Veja a seguir um breve histórico das edições das normas ISO da série 9000.
ISO 9000:1987 | § ISO 9001:1987 Modelo de garantia da qualidade para design, desenvolvimento, produção, montagem e prestadores de serviço – aplicava-se a organizações cujas atividades eram voltadas à criação de novos produtos. § ISO 9002:1987 Modelo de garantia da qualidade para produção, montagem e prestação de serviço – compreendia essencialmente o mesmo material da anterior, mas sem abranger a criação de novos produtos. § ISO 9003:1987 Modelo de garantia da qualidade para inspeção final e teste – abrangia apenas a inspeção final do produto e não se preocupava como o produto era feito. |
ISO 9000:1994 | Essa norma continha os termos e definições relativos à norma ISO 9001:1994. Não é uma norma certificadora, apenas explicativa, dos termos e definições da garantia da qualidade. |
ISO 9001:1994 | Essa norma continha os requisitos para o sistema de gestão da qualidade, era a base para a certificação. |
ISO 9001:2000 | Essa norma combinava as normas 9001, 9002 e 9003 em uma única, doravante denominada simplesmente 9001:2000. |
ISO 9000:2005 | Fundamentos e vocabulário: Descreve os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e os termos a ela relacionados. |
ISO 9001:2008 | Diretrizes e requisitos para o sistema de gestão da qualidade. É a nova versão da norma certificável do sistema de gestão da qualidade, substituindo a anterior de 2000. Uma das alterações nesta versão foi a sub-cláusula 1.2 que introduz o conceito de exclusões, ou seja, a norma permite que requisitos que não sejam aplicáveis devido a características da organização ou de seus produtos sejam excluídos, desde que devidamente justificados. |
ISO 9004:2010 | Guia para a melhoria do desempenho. Fornece diretrizes para melhorar a eficiência do sistema de gestão da qualidade. |
ISO 9001:2015 | Diretrizes e requisitos para o sistema de gestão da qualidade. É a nova versão da norma certificável do sistema de gestão da qualidade, substituindo a anterior de 2008. As maiores alterações estão na nova estrutura, alinhada com as demais normas ISO; maior ênfase na gestão de riscos; maior engajamento das lideranças; exclusão do representante da alta direção, com o envolvimento maior da própria direção e das áreas envolvidas; maior facilidade de uso para as Organizações de “serviços”; maior ênfase em resultado e sua melhoria, do que simplesmente requisitos. |
Os Princípios de um Sistema de Gestão da Qualidade Baseado na ISO 9000
- Foco no cliente: a Organização vive em função do cliente, portanto deve entender as demandas e necessidades buscando satisfazer e superar suas expectativas;
- Liderança: as realizações e as mudanças necessárias em uma Organização são puxadas pelas lideranças, que estabelecem um ambiente motivado e saudável;
- Envolvimento das pessoas: todos são partes da grande engrenagem que movimenta a Organização, portanto, é preciso que cada um faça sua parte com zelo, dedicação e comprometimento;
- Abordagem por processos: os resultados são melhores quando os recursos e as atividades são geridas como um processo, permitindo, inclusive, facilitar os trabalhos de melhoria contínua;
- Gestão por sistemas: todos os processos fazem parte de um sistema e, como tal devem ser geridos, contribuindo para melhores resultados;
- Melhoria contínua: o pensamento de melhorar continuamente o desempenho da Organização deve ser objetivo permanente;
- Decisões baseadas em fatos e dados: analisar os fatos, dados e informações antes de tomar decisões, permite uma visão mais clara das alternativas e consequências;
- Relação ganha-ganha com os fornecedores: os resultados serão melhores e mais duradouros quando ambos, Organização e Fornecedor, tem benefícios;
O Papel da Alta Direção em Relação a um SGQ (Sistema de Gestão da Qualidade)
Como em qualquer implantação de um novo sistema, em momentos de mudança, o papel da alta direção da Organização é fundamental. A seguir, descrevemos alguns pontos fundamentais a observar no caso da implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade:
- Estabelecer e manter uma política da qualidade e os objetivos da qualidade;
- Promover a cultura da qualidade (política e objetivos) através da Organização;
- Assegurar o foco no cliente;
- Assegurar a implementação dos processos necessários para o atendimento ao cliente e o atinigimento dos objetivos da qualidade;
- Assegurar a implementação e manutenção de um efetivo, adequado e eficiente SGQ;
- Assegurar a disponibilidade dos recursos necessários ao atendimento da política e dos objetivos da qualidade;
- Revisar e analisar criticamente, numa base periódica adequada, o sistema de gestão da qualidade da Organização;
- Decidir sobre as ações relativas à política de qualidade e objetivos de qualidade;
- Decidir sobre as ações de melhoria do SGQ;
Implementação do Sistema de Gestão da Qualidade
A implementação de um sistema de gestão da qualidade pode, resumidamente, ser estruturada em 12 etapas:
- Diagnóstico inicial da situação e da documentação da empresa;
- Reunião com a alta administração, definição do representação da alta administração, definição da equipe/consultoria de implantação e comunicação a todos os colaboradores da empresa;
- Treinamento dos gestores e colaboradores;
- Mapeamento dos processos da empresa;
- Elaboração da documentação e revisão das já existentes;
- Treinamento relativo aos documentos e processos;
- Implementação da documentação e do sistema de gestão de documentos;
- Auditorias internas;
- Ações corretivas;
- Pré-auditoria de cerificação;
- Ações corretivas;
- Auditoria de certificação.
Veja, a seguir, um modelo de cronograma de implantação, que pode ser executado num prazo médio de 6 meses. É claro que poderá variar de acordo com o tamanho, complexidade, nível de organização e maturidade do seu pessoal.
Auditoria do Sistema de Gestão da Qualidade
A NBR ISO 19011:2002 é a norma com diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade e/ou ambiental, e é dividida em 8 seções:
- Introdução
- Seção 1 – Objetivo e Campo de Aplicação
- Seção 2 – Referência Normativa
- Seção 3 – Termos e Definições
- Seção 4 – Princípios de Auditoria
- Seção 5 – Gerenciamento de Programa de Auditoria
- Seção 6 – Atividade de Auditoria
- Seção 7 – Competência e Avaliação de Auditores
É de fundamental importância a escolha de um colaborador com perfil adequado para o papel de auditor interno do sistema de gestão da qualidade. Esse processo de escolha, segundo a norma, pode seguir os seguintes passos:
- Passo 1: identificar os requisitos/competências, ou seja, os atributos pessoais, conhecimentos e habilidades necessárias para atender às necessidades do programa de auditoria
- Passo 2: estabelecer o critério de avaliação, que pode ser quantitativo (como anos de experiência profissional ou treinamentos feitos) ou qualitativo (como demonstrar atributos pessoais ou conhecimento)
- Passo 3: selecionar o método de avaliação (ver a tabela abaixo)
- Passo 4: conduzir a avaliação
Métodos de Avaliação de um Auditor Interno | ||
Método | Objetivo | Exemplo |
Análise crítica de registros | Verificar a formação e experiência do auditor | Análise de registros de educação, empregos e experiência em auditoria |
Realimentação positiva e negativa | Fornecer informações sobre como o desempenho do auditor é percebido | Pesquisas, questionários, referências pessoais, atestados, reclamações, avaliações de desempenho, análise crítica de seus pares |
Entrevista | Avaliar atributos pessoais e habilidades de comunicação para verificar informações e testar conhecimentos | Entrevistas presenciais ou por telefone |
Observação | Avaliar atributos pessoais e a capacidade de aplicar conhecimentos e habilidades | Execução de funções, auditorias testemunhadas e desempenho no trabalho |
Teste | Avaliar atributos pessoais, conhecimentos e habilidades (e sua aplicação) | Exames orais e escritos |
Análise crítica após auditoria | Fornecer informações onde a observação direta pode não ser possível ou apropriada | Análise crítica do relatório de auditoria e conversa com o cliente, auditado, auditor e seus colegas |
Exemplo de processo de avaliação de auditor interno | |||
Competências | Requisitos (passo 1) | Critérios de avaliação (passo 2) | Métodos de avaliação (passo 3) |
Atributos pessoais | Ético, mente aberta, diplomático, observador, perceptivo, versátil, tenaz, discernido e auto-confiante | Ter desempenho satisfatório no local de trabalho | Avaliação de desempenho |
Princípios e técnicas de auditoria | Habilidade para conduzir uma auditoria da acordo com procedimentos | Ter completado curso interno de auditor e ter executado três auditorias como membro de equipe | Análise crítica de registros de treinamento Observação crítica dos pares |
Sistema de gestão e documentos de referência | Habilidade para aplicar as partes pertinentes do manual do sistema de gestão e seus procedimentos | Ter lido e entendido os procedimentos do manual perinentes aos objetivos, escopo e critérios de auditoria | Análise crítica de registros de treinamento Teste Entrevista |
Situações organizacionais | Habilidade para atuar de forma eficaz dentro da cultura de empresa | Ter trabalhado para a empresa durante, no mínimo, um ano em função de supervisão | Análise crítica de registros de emprego |
Leis, regulamentos e outros requisitos aplicáveis | Habilidade para identificar e entender a aplicação das leis e regulamentos perinentes | Ter feito um curso específico ou ter experiência requerida | Análise crítica de registros de treinamento Teste Entrevista |
Conhecimentos e habilidades específicas da qualidade | |||
Métodos e técnicas relacionadas com a qualidade | Habilidade para descrever os métodos internos de controle da qualidade Habilidade para discernir sobre os requisitos para testes finais e ao longo do processo | Ter feito treinamento na aplicação dos métodos de controle de qualidade Ter demonstrado o uso no local de trabalho desses métodos ou conhecê-los | Análise crítica de registros de treinamento Teste Entrevista Observação |
Processos, produtos/serviços | Habilidade em identificar os produtos e processo específicos | Ter trabalhado na área | Análise crítica de registros de emprego |